domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Quando saí de casa para ir ao cinema não carregava comigo nenhuma expectativa. Eu não havia visto o trailer daquele filme, nem lido nada a respeito. Não sabia qual era a temática, apenas tinha ouvido dois amigos dizerem q era um bom filme, nada além disso.

O Cisne Negro se provou ser muito mais do que uma simples inovação hollywoodiana. O filme inteiro foi uma das melhores metáforas que eu já vi sobre as questões femininas. O filme não é a história de uma bailarina buscando o papel principal no Lago dos Cisnes, como pode parecer aos mais desavisados. Essa película mostra uma menina buscando desesperadamente se despir de seus atributos feminilizantes.

Nenhuma personagem realmente existe ali. Isso pode ser complicado de perceber a primeira vista, mas se você assistir com um pouquinho mais de atenção verá que não há aprofundamento psicológico nem histórico das personagens, o que, geralmente, é crucial para defini-las. Não se sabe nada sobre a infância da “personagem principal”, onde está seu pai, seus relacionamentos com amigos, ex namorados, nada sobre seus conflitos ou história de vida; também não fica claro qual é sua relação com a mãe e nem a história desta, ela é uma bailarina frustrada, artista plástica? Se não se tem absolutamente nenhum backgroud sobre a suposta personagem central que dirá dos secundários. E isso se dá porque essas personagens simplesmente não existem. Elas são arquétipos emprestados.

Nina é a sweet girl, como é perfeitamente descrita no próprio filme. Criada, educada, adestrada, treinada para ser a menina perfeita, doce, delicada, frágil... O cisne branco! E a metáfora do balet não poderia encaixar melhor nisso tudo. O que haveria de mais óbvio para descrever o arquétipo feminino do que a linda, leve, branca e pura bailarina? Perfeito!

Mas ela sente que quer mais, ela se dedica, ela se esforça. O filme começa com ela enfrentando a si mesma, logo na cena inicial. O sonho a mostra sendo conduzida a uma transformação pelas mãos do que aparenta ser um monstro. Essa única cena, a primeira e mais simples, é capaz de resumir todo o resto. Ela dança graciosamente, e a câmera foca na ponta dos seus pés, os movimentos leves e belos, o tutu romântico, o sorriso angelical e a postura impecável. Então ele surge, personificado na figura do feiticeiro do balet, mas que no sonho da menina logo ganha a forma de uma besta, com olhos vermelhos, que a conduz numa dança enfeitiçadora e a transforma em algo mais ousado, agora no tutu bandeja, com adereços no cabelo e uma nova expressão no rosto.

Como disse, metáforas. A “besta” ganha muitas formas ao longo do filme, está centrada no coreógrafo que exige que ela se jogue com o coração, mas é vislumbrada na nova bailarina que a leva para uma noite na esbórnia e a faz vivenciar novas e libertadoras sensações. Mas nenhuma dessas personagens realmente existe, mantenha sempre isso em mente. Na cena da esbórnia ela se permite abrir, sentir o momento. Ela se deixa levar por alguns rapazes, mas a noite termina com a amiga, que se transforma nela mesma, diante dos seus olhos, com as asas abertas, pronta para voar.

Sim! É isso mesmo! Essa luta é muito pessoal. Ninguém jamais será capaz de ensinar uma “fêmea” como se libertar de seus atributos feminilizantes. E isso não é possível simplesmente porque não é possível definir “mulher”. Cada uma tem uma história única, cada uma vivencia a sua opressão de forma única, e cada uma tem q encontrar seu próprio caminho de saída.

E ela goza ao ver as asas abertas! É realmente orgasmático encontrar a estrada que começa a nos conduzir para fora dessa prisão cor-de-rosa e adornada com bichinhos de pelúcia. É preciso atenção para enxergar que os adereços fofos e bonitinhos são, na verdade, algemas disfarçadas. Mas ela enxerga! E após o gozo sufoca a sweet girl. Ou começa a entender o verdadeiro caminho de libertação.

Por um momento ela se confunde, ainda atordoada com tanta informação, e pensa que a amiga é sua rival. Mas não existe amiga, não existe balet, não existe coreógrafo, nem existe mãe. Só existe a opressão e a luta desesperada para se ver livres das correntes. Mas ela ainda está começando a se dar conta disso.

Num surto de lucidez, limpa seu quarto e joga seus bichinhos de pelúcia na lixeira. Volta a dançar ainda levemente confusa, mas já tendo dado mais um importante passo em busca da liberdade. Mas o sistema pesa, ele é forte e difícil de vencer. E ela resolve ir em busca da solista que ela mesma substituiu, admirar a perfeição de perto. Mas ela ainda precisava entender que os heróis da nossa infância estão longe de ser perfeitos, eles são nossas primeiras algemas, apresentados a nós de forma sublime e encantadora. Não Nina, a bailarina linda que você tanto admirou não é perfeita, e agora ela se rasga e se despedaça bem em frente aos seus olhos. Uma cena grotesca, que incomoda de ver, dói, nos faz recontorcer na cadeira, mas é viceralmente verdadeira. Ela tenta correr, mas esse é um caminho sem volta, o sangue já estava em suas mãos, mas ela ainda não compreendia por que.

Ela sente a transformação, sente no corpo, na pele. Os olhos agora estão vermelhos, sedentos por sei lá o que. Ela grita com a mãe, a machuca fisicamente, o sangue está nos olhos, é um caminho sem volta. Você vê agora? Entende?

E o espetáculo começa a medida que a metamorfose avança. Ela já não consegue incorporar o cisne branco tão bem quanto antes, onde está a pureza angelical? Onde está a leveza e delicadeza? E somente no intervalo para o ato final que ela finalmente compreende o que está acontecendo, de onde vem o sangue.

Não existem personagens, não existe amiga, coreógrafo, mãe, platéia, nem ela mesma é real. Como eu disse, o filme inteiro É uma grande metáfora. E nesse momento ela fica clara e translúcida.

Para LIBERTAR o cisne negro é preciso MATAR a sweet girl!

Não há outra opção. Não existe caminho do meio. O radicalismo é a única forma de encontrar a liberdade.

Vídeo da Semana:



http://www.youtube.com/watch?v=1Wav5KjBHbI&feature=player_embedded

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Das efemeridades

A eternidade é uma mentira. Sei há muito tempo,mas nunca quis falar a respeito por achar uma idéia um tanto quanto óbvia, dessas que, de tão óbvias, as pessoas ficam chateadas de ouvir. Eu francamente não me aventuro mais a sair concluindo máximas acerca de outros seres humanos, de forma que, se eu tiver alguma sorte, posso encontrar com este texto alguém que não saiba a respeito desta mentira, ou que não concorde, que talvez se sinta levemente ofendido ou contrariado pelos meus argumentos mas, que ainda assim, ache estimulante os ler.

A eternidade não existe; ela é constantemente reinventada, frágil como um formigueiro; entre algumas espécies deste inseto, as operárias são efêmeras e, durante sua curta existência, não dormem. As pobres anônimas trabalham toda sua pequena vida construindo um formigueiro do qual não gozam, e existem até espécies que morrem sem jamais ter comido ou bebido água. Tal se dá com a história: ela está sempre sendo re-contada, re-redigida, e até mesmo (senão principalmente) reinventada. Conta-se Napoleão, inventa-se Luís XIV todos os dias em milhões de escolas espalhadas pelo mundo; em museus e biblioteca, em castelos e antigos porões, parece que tais grandessíssimas personalidades nunca morrem, sempre legando a nós um novo alfinete de fralda, pente ou objeto de nenhum valor que, ainda assim, conta sua história. Quem não teve a chance de, como esses dois, ser escolhido como um dos Grandes, sobre os quais nossa historinha se debruça, pode ficar milhares de anos sob a terra como aqueles soldados de Terracota, e ser descobertos por total acaso, como se nada valessem – e talvez realmente não valham; e àqueles que não foram feitos de terracota, cujas roupas eram pobres farrapos de algodão, que empunharam enxadas e chaves de fenda, que morreram e legaram aos filhos somente um par de sapatos velhos... a esses resta apenas o esquecimento.

E, todavia, sempre tem alguém falando da porra da eternidade. Sempre tem alguém afirmando que a Verdade – musa dos filósofos – esconde-se no horizonte diáfano dessa entidade incorpórea. A eternidade é a promessa da imortalidade simbólica; é, segundo dizem, a superação das limitações deste corpo de carne low-tech, que nos dão quando nascemos. O poeta, eterno, consegue ser lido depois de tornar-se pó; a peça ressuscita o amor de Julieta; vivemos a lamber os pés de tudo quanto é eterno sem nos darmos conta de que, ao fazê-lo, estamos diariamente erguendo e edificando a suposta Eternidade.

E ela entra sorrateira pelas frestas e buracos de nossos sonhos mais íntimos, dizendo-nos que, tudo quanto perece, vale pouca coisa. Criamos amores, filhos, livros, árvores, lixo, sulcamos o planeta e tiramos dele seus brilhos, suas jóias, enfeitando nossa efemeridade com qualquer coisa que nos remeta ao inefável, ao eterno. Não conseguimos evitar a tristeza perante a falha que nos separa do sem-fim: choramos por namoros que acabam, mesmo que não seja um choro de saudade ou de perda, ou mesmo de dor: muitas vezes, é simplesmente aquele incômodo de não termos sequer roçado nossas finitas mãozinhas na eternidade. Somos escravos dessa temporalidade impossível. Eu sou. Eu era.

Sempre que penso em eternidade lembro do meu tapete laranja, estendido atrás de mim, aos pés da TV. Tal como a casa cogumelo foi a sede de minhas fantasias e brincadeiras infantis, o tapete foi a testemunha dos meus amantes; por ele roçaram muitos corpos, muitos pés, choveram neles sorrisos que se bio-degradaram em sua fibra sintética.

Numa noite dessas, num amante desses, minha mãe chegou dizendo que tinha um presente. Era um vestido roxo de cetim, roxo feito a noite, e que ocasionalmente brilhava como se tivesse mesmo sua poeira estelar. Eu vesti aquilo que me mal cobria e fui de novo para a sala me achando um pedaço do céu, da lua, da terra, me achando grandiosa em todo o meu corpo finito; enquanto isso, do aparelho de som jorrava uma música que eu cantava com ele – seu nome era Saulo – enquanto a gente valsava pelo tapete, sem saber valsar. E ríamos de não saber, nos perguntando quem mais nesse mundo tão vasto estaria afinal ouvindo Elton John, tomando cerveja, valsando e rindo num tapete laranja. Era como se já não tivesse sala em torno de nós, como se estivéssemos no não lugar onde, todas as noites, os sonhos acontecem para depois ser esquecidos. E tal como um sonho, aquele momento chegou, aconteceu, Saulo foi embora em seu fusca laranja, e eu fui para os cantos virtuais dos meus diários, consumando uma separação, esta sim, e por enquanto, eterna.

Mesmo assim, aquela música ficou tatuada com nossos contornos e nossos beijos. Com a sinceridade que tivemos em não tentar resgatar um momento morto, em não tentar viver um passado perfeito. Vivemos aquele intervalo pequeno e raro em que nossa união fez sentido, e fomos embora sem o pesar desconfortável de “um amor que não deu certo”, uma vez que TINHA dado certo, por instantes, por uma única música, no perímetro de um tapete; de onde concluo, desde então, que a efemeridade é mais sincera.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Momento

Quando sentei aqui para começar a escrever, eu não ia começar por esse texto. Queria escrever sobre outras coisas primeiro. Mas as emoções do momento me trouxeram até aqui. A música que povoa minha mente desde o momento em que acordei, os pensamentos que banham meu ser e a poesia que parece flutuar no ar... Tudo isso me fez mudar de idéia. Resolvi começar falando de paixão!

Nada mais apropriado, eu diria. Afinal, como bem descreveu minha grande amiga e companheira de blog, esse é um espaço sentimental. A razão é aquele animal mitológico que todos nós acreditamos fervorosamente, mas a verdade é que ele não existe nos livros de taxonomia.

Os últimos meses da minha vida foram povoados por uma grande paixão arrebatadora. Dessas de adolescente, ou que eu, pelo menos, não sentia desde esses tempos. Talvez eu estivesse meio sedenta por adrenalina, não sei ao certo. Mas também não estou aqui para “racionalizar” nada, na verdade estou deixando esse texto fluir, como também não fazia há muitos anos. Estou permitindo que as palavras escorreguem por entre meus dedos, como finos grãos de areia da praia, vindos diretamente do infinito horizonte, e que voam mais uma vez para não sei onde.

Talvez isso tudo soe um pouco esquizofrênico aos olhos bem treinados daqueles que estão enquadrados. Mas eu já não quero mais ter pontas. Elas atrapalham os sentidos. Para ser livre para sentir temos que ser assim mesmo. Malucos! Doidos! Esquecer a vergonha e o pudor! Deixar fluir... Deixar voar... Como o vento forte que bate de repente.

Essa paixão surgiu num momento único, como todas surgem. Um momento de alguma carência, mas não muita. Acho que eu sempre me encontro num momento de alguma carência. O momento era único, e era belo. Era um momento que só mais tarde eu descobriria ser feito de coco coberto de chocolate. Era sim extremamente saboroso! Fez minha língua dançar! E eu estava ali, saboreando esse sabor que eu ainda não descobrira de que era, quando ele apareceu.

Apareceu de noite. Não lembro qual noite nem de maiores detalhes sobre aquela noite. Só me lembro que era noite. Apareceu totalmente inesperadamente, falando de coisas mais inesperadas ainda. Ali eu ainda não sabia, mas começava a nascer esse sentimento, essa paixão.

A cada nova aproximação, um novo bater do coração. Não, a rima não foi proposital. Como disse, as palavras estão apenas fluindo, escorrendo, sem olhar para traz. Sem parar para alterações ou pequenas correções. Apenas deixando sair, deixando brotar. Ninguém controla o curso de um rio... Ou pelo menos não deveria controlar. Quando insistimos em brincar de Deus, sempre acabamos destruindo tudo o que há de mais belo. Então pra que controlar o curso do rio? Deixe-o fluir!

E a paixão cresce na velocidade dos bambus. As minhas pelo menos são assim. Ainda mais na conjuntura daquele momento. Eu estava ávida por aventura, queria sentir o frio na barriga, queria sentir o suor escorrer e não saber o que fazer, queria sentir a cabeça girar e a voz desaparecer. Acho que fiquei muito tempo presa numa dimensão paralela, num relacionamento que não me forneceu essa gostosa sensação. E eu fui me deixando levar, me permitindo sentir tudo isso, todo esse sentimento que parece aquela sensação de garganta super seca num dia quente, e só passa com um copo de água gelada.

E a minha garganta estava seca! Seca como um deserto árido. Secou debaixo de um sol forte, mas sem queimar muito. Eu apenas caminhando esperando ansiosamente o momento de beber o tão esperado copo de água. E de repente, no meio disso tudo, lá estava ele! Tão gelado que as gotinhas de água se acumularam em volta do vidro, fazendo suar o copo. Eu corri! Corri até ele com tanta avidez que nem me lembro direito do que aconteceu.

Talvez eu tenha derrubado o copo. Por alguns instantes achei ter derrubado toda água no chão.

Talvez eu tenha bebido rápido demais. Por alguns instantes achei ter engasgado.

Talvez ele tenha sido apenas uma miragem do deserto. Por alguns instantes achei tê-lo visto desaparecer.

Mas a verdade é que foi tudo isso ao mesmo tempo. Eu derrubei a água no chão, eu engasguei com a que restou no copo, e as últimas gotas desapareceram diante dos meus olhos.

Quando essas coisas acontecem, o nosso cérebro, treinado por todos os anos educacionais nessa sociedade que tanto preza pela razão, tende a querer apontar culpados. Quem? Quem seria a vil criatura que me fez apaixonar? Foi o objeto da paixão? Tão perfeito que é, se mostrar assim, o que querias de mim? Foi Deus? Por que colocaste diante dos meus olhos essa miragem no deserto? Fui eu? Estúpida, se deixou levar sem pensar...

Opa! Esse foi o gatilho...

Sim... Me deixei levar sem pensar... E qual foi o mal? Foi mal?

Não! E foi então que eu vi... E entendi... E descobri que o momento era de coco coberto com chocolate. E ele era muito saboroso! Fez minha língua dançar! Fez meu corpo vibrar! Fez minha mente girar! Me causou todo o frisson que eu almejava! Mas durou o tempo de degustar uma barra de chocolate. Um momento!

Algumas barras de chocolate são únicas. Mesmo que você compre outra, ela não tem assim o mesmo sabor. E outras só existem em lugares distantes. Como se você chegasse num lugar desconhecido, comprasse um chocolate local e o saboreasse intensamente. Mas aí você volta pra casa e não pode mais adquirir novas barras daquele chocolate. Mas isso não o faz arrepender-se de ter saboreado aquele único, pelo contrário. Isso faz daquele chocolate ainda mais especial, porque ele foi único, foi intenso, e foi gostoso!!

Um momento feito de coco com chocolate! Uma paixão assim com esse sabor. Sem dor. Sem sofrimento. Não mais. Só o sorriso no rosto, desses que ficam enquanto a gente ainda sente o gostinho na boca, que aos poucos se esvai...


Vídeo da Semana:


http://www.youtube.com/watch?v=8LA_PUhpnKc

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Apresentação do CAJU

Este é um blog de duas pessoas apaixonadas por idéias.

Estamos plenamente cientes dos riscos que corremos ao apresentarmos nosso coletivo desta forma. Num mundo em que a Razão tornou-se uma religião cuja igreja é a ciência – dos laboratórios, das academias e dos jornais – declarar-se apaixonado é semelhante a declarar-se louco. Contudo, se estamos aqui para combater os alicerces dessa cultura autofágica, despir-se da retórica por aí clamada como razão é um bom começo. Que assim seja: este é um blog de pessoas loucas.

Ainda assim, estamos aqui para sustentar a idéia de que tal loucura gera trabalho: é esse ímpeto, essa chama que queima dentro de nós um pouco acima do estômago, que não nos deixa parar. Num mundo de letargia ideológica, é a paixão quem infla ou queima bandeiras. É a paixão quem transforma nossas idéias, muitas vezes parcas e sempre imperfeitas, em ações concretas – muitas vezes parcas e imperfeitas, mas ainda assim, ações.

Este é um blog gerido por duas fêmeas que vão, pouco a pouco, deixando de ser mulheres. Entendemos mulher, aqui, não como o corpo com útero, não como a silhueta com seios e bunda, mas uma série de atributos culturais que resultam, em última instância, em exploração. Ainda assim, somos duas fêmeas que pilotam o fogão e realizam malabarismos alquímicos para atingir uma cozinha ética. Este blog também se destina a outr@s pilot@s de fogão.

Este é um blog sobre idéias, e idéias vêm de pessoas. Vamos abolir daqui, de uma vez por todas, essa tara iluminista por produzir um conhecimento que emane de si mesmo, como um Deus. Nossas idéias vêm, como todas as outras no universo, de nós, de nossas vidas, a um ponto em que já não tentaremos mais – porque, fatalmente, um dia já tentamos – desvencilhar nossas vidas políticas de nossas vidas amorosas ou pessoais. Este é um blog sobre a Vida.

Algumas das histórias que aconteceram com a gente, diremos que aconteceram com outras pessoas. Medidas de segurança, esperamos a compreensão de vocês. Também estamos cientes do surrealismo que envolve e envolverá sempre o conteúdo deste blog, e pedimos encarecidamente para que compreendam o seguinte: uma vez lançada a proposta de se viver livremente, os limites do possível expandem-se ao infinito. Tomamos o cuidado de pedir a sua compreensão, mas não a sua crença; este blog também é uma performance.

Verdade ou mentira, as obras mais inspiradoras da humanidade são ficções e, ainda assim, seu poder de mudar pessoas é incontestável. Encare-nos como personagens, se assim for mais palatável. Mas encare-nos como personagem especialmente quando alguma das nossas propostas parecer terrivelmente tentadora.

Por fim, este blog é um pedido. Não é uma bolha de conhecimento túrgida de arrogância. Não somos uma dupla de pedantes. Este blog é sobre e para você que compactua com nosso plano mirabolante de mudar o mundo. Quem dorme na cama dos nossos ideais é nosso amante político.

E assim terminamos com a convocação: junte-se a nós em nossa orgia ideológica!